COVID-19 -tocar os objetos contagia?

Você “desinfeta” todos os produtos que você compra no supermercado? Passa álcool gel no seu celular, na direção do seu carro, no seu óculos, seu relógio ou até mesmo nas moedas e cédulas de dinheiro?

Pois bem, o jornal EL PAIS, fonte do que tratamos neste post, publica análise feita pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) dando conta de que “o risco de contágio ao tocar superfícies contaminadas pelo Covid é de 1 entre 10.000″. O subtítulo da citada matéria diz: “Os centros de controle de enfermidades minimizam o risco de contágio por tocar objetos e assinalam que normalmente basta limpá-los com sabão”.

Não é à toa que os desinfetantes em suas mais diferentes apresentações estão vendendo feito água.

Diz o artigo:

“O uso de desinfetantes é desnecessário na maioria das situações quotidianas para combater o coronavirus,…. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) analisou todas as provas científicas sobre a propagação da Covid a partir das superfícies e concluiu que a limpeza com sabão ou detergente comum é suficiente. Acima de tudo, porque o risco de contágio por tocar numa superfície contaminada é muito, muito raro. O CDC tem até a ousadia de apresentar um número: menos de uma infecção para cada 10.000 vezes que se toca num objeto com coronavírus.

Acrescentamos aqui que essa possibilidade de se contaminar ao tocar objetos se tornará quase impossível se tivermos o hábito de lavar as mãos antes de levá-las ao rosto ou à boca.

Na análise efetuada pelo CDC ficou claro que o risco de infecção pela via dos objetos é altamente improvável. E conclui: “Devido aos múltiplos fatores que afetam a transmissão ambiental, o risco de transmissão do SRA-CoV-2 por fômites é muito baixo comparado com o contato direto, a transmissão por gotículas ou por via aérea”. Lemos na Wikipédia que um fômite é qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infecciosos, de um indivíduo a outro.

Portanto, o contato direto com outras pessoas ainda é considerado o mais perigoso, pois falar, cantar, tossir, espirrar, etc., gera gotículas de tamanhos variados que podem ser inaladas por outras pessoas.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) também observa nas suas diretrizes que esta via de transmissão é a menos provável e assinala que não foram notificados casos de infecção por fômites após milhões de doentes em todo o mundo. O CDC observa também que, tal como na transmissão inalatória, o exterior é também menos perigoso para a infecção da superfície dos objetos “devido à diluição e ao movimento do ar, bem como às condições ambientais mais difíceis, tais como a luz solar”.

Conclui a matéria:

Todas as agências e autoridades de saúde desaconselham a fumigação ou nebulização de ambientes e este documento do CDC reitera que isto não é útil nem seguro. E recomenda apenas o uso de desinfetantes especiais, além do sabonete normal, “nas situações em que houve suspeita ou confirmação de caso de COVID-19 em ambientes fechados nas últimas 24 horas”.

Portanto, acredito que a desinformação a esse respeito pode estar levando as pessoas a adotar condutas obsessivas e ao medo de tocar nos objetos. Saliento que podemos encontrar o equilíbrio apenas tendo o cuidado de higienizar as mãos antes de levá-las ao rosto caso tenhamos frequentado ambientes ou transportes públicos.

Vacina Oxford/AstraZeneca e coágulos

Em 16 de março publicamos AQUI assunto tratado na mídia especializada dando conta de problemas com a vacina da Oxford/AstraZeneca que levou à suspensão do uso dessa vacina em vários países da Europa. Apesar das justificativas apresentadas em seguida por diferentes instituições, a coisa parece ser um pouco mais séria. Vejamos a matéria abaixo que transcrevo de OUTRA SAÚDE e que deve ser acompanhada com muita atenção.


A Alemanha acaba de mudar, mais uma vez, as orientações para o uso do imunizante de Oxford/AstraZeneca: agora, a vacina fica restrita a maiores de 60 anos. Na segunda-feira, o Canadá tomou decisão semelhante, suspendendo o uso para menores de 55 anos. Mais uma vez, o problema são os coágulos sanguíneos.

Desde o começo dessa polêmica, especialistas têm reforçado que não há evidências sobre uma eventual relação entre essa vacina e os coágulos. Falamos bastante disso aqui e aqui. Mas dados recentes mostram que essa história pode não ser tão simples quanto parece.

É que as condições identificadas pelas autoridades em vários países europeus não são coágulos comuns. Uma matéria publicada no site da Science no fim de semana explica: o que se vê são pessoas com coágulos por todo o corpo e, ao mesmo tempo, baixa contagem de plaquetas no sangue – o que é paradoxal, porque as plaquetas são células sanguíneas que justamente ajudam a formar os coágulos. O problema é mesmo bastante raro, mas, sendo tão específico, não daria para apenas compará-lo com a incidência de outros problemas relacionados a coágulos em geral na população, como se vem fazendo.

O pesquisador alemão Andreas Greinacher, da Universidade de Greifswald, diz que os sintomas se parecem aos de um raro efeito colateral da heparina, medicamento usado para tratar e prevenir coágulos. Esse efeito se chama trombocitopenia induzida por heparina (HIT), e a pesquisa de Greinacher, ainda não revisada por pares, sugere que possa estar acontecendo uma “síndrome de trombocitopenia imune pro trombótica induzida por vacina”. O caso não está fechado – continuamos sem saber se é a vacina que induz ao problema. Mas várias entidades médicas estão levando essas considerações a sério.

É sempre bom lembrar que aprovações emergenciais de vacinas envolvem uma avaliação dos riscos e benefícios. E, nos locais onde o vírus está mais alastrado e para as populações que correm mais risco de morrer por covid-19, o impacto do uso desse imunizante é claramente positivo. A dúvida é sobre o quanto vale a pena usá-lo em quem não está nos grupos de risco.

Em artigo publicado ontem no site The Atlantic, Hilda Bastian, especialista em análise de dados de ensaios clínicos, trata da tênue linha que separa uma comunicação eficiente sobre riscos e a disseminação de pânico total. Mas o medo do segundo efeito, defende ela, não pode excluir a necessidade de tratar as informações com transparência.

E há um ponto crucial nisso tudo: apesar de todas as incertezas, os raros coágulos são uma condição tratável. Portanto, se as autoridades de saúde mundo afora alertarem suas populações e serviços de saúde para os sintomas, a recuperação dos pacientes é possível. Tais sintomas, segundo a EMA (agência reguladora europeia), são os seguintes: falta de ar, dor no peito, inchaço nas pernas, dor abdominal persistente, dores de cabeça fortes ou persistentes, visão turva e hematomas ou pequenas manchas na pele.

AAS (aspirina) e Covid-19

A matéria que divulgo a seguir, em tradução livre, parece mostrar que os indivíduos que já fazem uso do AAS ou aspirina em baixas doses – 81mg/dia – poderão ser beneficiados caso venham a ser acometidos pelo coronavirus da COVID-19. Quem desejar ler a matéria no original em inglês, clique neste LINK


Aspirina em baixa dose: O uso de aspirina em baixa dose no início da internação de um paciente para COVID-19 está associado a melhores resultados, sugere um estudo retrospectivo em Anestesia e Analgesia.

Os pesquisadores estudaram cerca de 400 pacientes norte-americanos admitidos com COVID-19 entre março e julho de 2020; cerca de um quarto recebeu aspirina (dose média, 81 mg) nos 7 dias antes da admissão ou nas 24 horas após a admissão. O desfecho primário – necessidade de ventilação mecânica – ocorreu em 36% dos que receberam aspirina contra 48% daqueles que não receberam aspirina. Após o ajuste multivariável, o uso de aspirina foi associado a um risco reduzido de 44% para ventilação mecânica. Também foi associado a riscos significativos e reduzidos de forma semelhante para admissão na UTI e mortalidade intra-hospitalar.

Os usuários de aspirina não apresentaram risco aumentado de sangramento importante. Os pesquisadores observam que a aspirina pode “inibir irreversivelmente a agregação plaquetária nos pulmões, o que poderia reduzir microtrombos pulmonares e subsequente lesão pulmonar”.

Fonte: NEJM – New England Journal of Medicine – March 21, 2021 –PHYSICIAN’S FIRST WATCH

COVID-19, vacinas e trombose

A mídia especializada e outros meios de comunicação publicaram que 14 países da EU (União Europeia) suspenderam temporariamente o uso da vacina Oxford/AstraZeneca no combate ao COVID-19, em decorrência de vários comunicados dando conta de episódios de tromboembolismo em indivíduos vacinados recentemente e, um desses casos, evoluindo para o óbito na Dinamarca.

“Dois italianos morreram após receber a vacina, e uma fonte não identificada disse à agência de notícias Reuters que as mortes causaram a suspensão temporária da vacina.” Isso levou a essa atitude “preventiva“ dos órgãos reguladores na Itália, ressaltando que nenhuma ligação foi estabelecida entre a vacina e “esses graves eventos adversos”.

Muito embora o número de casos relatados e devidamente publicados seja pequeno – cerca de 30 casos de trombose seguido de embolia em cinco milhões de vacinas aplicadas – a Agência Europeia de Medicamentos informa que iniciou investigações mais aprofundadas em torno do assunto. Devemos salientar que a vacina da Oxford/AstraZeneca ainda não foi liberada pela FDA para uso nos Estados Unidos.

De qualquer forma devemos estar atentos, na medida em que não temos a menor ideia da quantidade de casos “que não são ou não foram relatados”. O monitoramento do que acontece com toda uma população vacinada é sabidamente precária, mesmo nos países com sistemas de saúde pública mais eficientes. Imaginemos o que pode ocorrer nas condições deficientes com que a questão vem sendo conduzida no Brasil.

Não significa que devamos negligenciar a vacinação, mas que devemos ficar muito atentos para os menores sintomas que se manifestem após a vacinação. Entre esses sintomas, destacamos o aparecimento de inchação nas pernas, muito embora o tromboembolismo possa ocorrer sem “aviso prévio”.

Não podemos esquecer, por outro lado, que estudos sugerem que a doença do novo coronavirus já traz consigo um aumento do risco de tromboembolismo (The Lancet). É efetivamente preocupante que esse risco seja acrescido por um outro decorrente da vacina em pauta. Diante do quadro de escassez de vacinas verificada em muitos países, seria lamentável que uma delas tivesse que ser excluída. Aguardemos os desdobramentos e mantenhamos as precauções.

COVID-19 e tratamento de feridas crônicas

Lemos matéria publicada no New York Post dando conta de que determinadas lesões nos pés podem significar “um sinal precoce de coronavirus, segundo especialistas”.

“Feridas nos pés semelhantes à varicela* podem ser um novo sintoma peculiar do coronavirus, de acordo com uma equipe de médicos espanhóis” – diz a matéria que prossegue informando que o “Spanish General Council of Official Podriatrist Colleges*** alertou os especialistas que alguns pacientes do COVID-19 apresentaram lesões nos pés semelhantes às da catapora e sarampo.” Acima a imagem publicada na matéria do NYP.

A publicação do NYP informa ainda que “os profissionais de saúde disseram que o estranho sintoma foi observado principalmente entre os pacientes jovens com coronavirus na Itália, França e Espanha”.

Citando a entidade espanhola a matéria conclui “que não há estudos científicos suficientes para apoiar as descobertas”.

O assunto chamou a atenção de serviços focados no tratamento de feridas dos membros inferiores em todo o mundo.

Na Itália, profissionais de saúde confirmaram relatos de lesões acrocianóticas**  em crianças e adolescentes assintomáticos, porém positivos para COVID-19. De acordo com esses relatos “as extremidades dos pés apresentam coloração avermelhada ou azulada, podem ser dolorosas, evoluem por alguns dias e desaparecem por conta própria.”

No site da Revista PODIATRY TODAY a Dra. Tracey Vlahovic, do Departamento de Medicina Podiátrica da Temple University (USA), comentando o assunto apresenta as seguintes sugestões:

  1. Ter em mente que nem todos os pacientes com Covid-19 desenvolverão lesões cutâneas, especialmente nas extremidades inferiores. Essas lesões nos pacientes com Covid-19 ocorrem principalmente no tronco.
  2. Muitas doenças virais cursam com erupções na pele. As petéquias e púrpuras semelhantes às da varicela e sarampo ocorrem em muitas enfermidades cutâneas e não são específicas para o COVID-19.
  3. Se esse tipo de lesão ocorre em uma criança, conforme citado por especialistas na Itália e na Espanha, interrogue sobre os sintomas em outros membros da família, pois a criança pode estar assintomática para o COVID-19.
  4. Em adultos, observe os sinais clínicos de isquemia de membro (unilateral ou bilateral) e solicite exames laboratoriais, como dímero-D, produto de degradação do fibrinogênio e tempo de Protrombina (TP) para determinar se o paciente apresenta alterações da coagulação.
  5. Não esquecer que os pacientes com COVID-19 em estado crítico podem apresentar condições subjacentes que podem contribuir para um quadro isquêmico.

Precisamos, portanto, estar muito atentos para tudo o que for publicado no contexto dessa pandemia. É importante checar as informações e buscar fontes confiáveis.

* Também conhecida como catapora, no Brasil

** Coloração azulada ou arroxeada das extremidades

*** Entidade espanhola de especialistas em Podiatria

COVID-19 e úlcera plantar em diabéticos

Uma vez considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde, o que o novo coronavirus significará para os milhões de pacientes diabéticos pelo mundo?

Instituições científicas são unânimes em afirmar enfaticamente que os portadores de DM (Diabetes Mellitus) são os mais vulneráveis às complicações da COVID-19. Ou seja, o risco de óbito é maior entre os diabéticos acometidos pela nova doença.

O diabetes foi responsável por aproximadamente 20% das admissões em unidade de terapia intensiva (UTI) de acordo com uma análise recente em Wuhan, China.(1)

Dados mais recentes, desta feita da Itália, revelaram que mais de dois terços das pessoas que morreram por COVID-19 tinham diabetes. “Resta agora determinar se as complicações crônicas do diabetes desempenham um papel nesta associação. Por exemplo, algumas ideias já surgiram em relação ao pé diabético, em parte mediadas pela neuropatia diabética”.

Além disso o Diabetes foi inquestionavelmente um importante fator para a gravidade e a mortalidade de surtos anteriores de viroses evoluindo com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). (3)

O que dizer, então, dos diabéticos que são também portadores de feridas ou úlceras plantares?

Precisamos considerar duas observações que parecem estar se tornando relevantes para que se possam tirar conclusões que respondam a essa pergunta:

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